Reconhecendo que há vários aspectos da arte mural de Almada Negreiros ainda desconhecidos, uma equipa de investigadores da Universidade de Évora decidiu lançar-se num projecto, liderado por Milene Gil, perseguindo, pela primeira vez, a questão da inovação que o modernista trouxe a este campo e quais as fontes e tendências do seu trabalho.
As suas criações murais foram destinadas a encomendas públicas e integradas em projectos do arquitecto Porfírio Pardal Monteiro, entre as quais encontramos cinco núcleos de pintura na cidade de Lisboa entre 1938 e 1956.
“Estas obras têm sido objecto de discussão preferencial, no que respeita aos seus atributos plásticos, iconográficos e simbólicos, mas são poucos ainda os estudos que abordam, e muito menos os que aprofundam as particularidades das produções, as referências e repercussões dos murais pintados entre artistas conterrâneos e gerações sucessivas” reflecte a investigadora, na notícia «UÉ lidera projeto que pretende desvendar a arte da Pintura Mural de Almada Negreiros», publicada no site da instituição. Nota ainda que a catalogação da materialidade da obra, que tem implicações na conservação, pode apresentar falhas. “Todas as suas pinturas murais estão catalogadas como frescos mas esta poderá não ter sido a única técnica pictórica realizada”, refere, baseando-se nos relatos de Conservadores-Restauradores do Instituto José de Figueiredo que procederam ao estudo destas pinturas entre 1970 e o ano de 2000. Há que considerar que o modernista era um experimentalista. Este estudo avançará através de três abordagens distintas. Começar-se-á “no campo da investigação de história de arte e história das técnicas da produção artística, com recolha e avaliação de documentação e sua integração com os resultados obtidos dos exames de superfície e caracterização material. Em segundo lugar, os investigadores vão realizar exames de superfície das pinturas com recurso a técnicas convencionais e avançadas de imagem no visível, visível-rasante e no invisível (ultravioleta e infravermelho).” Por último, proceder-se-á à “caracterização material, conjugando técnicas de análise in loco não invasivas (colorimetria, espectrofotometria no visível, FORS, espectrometria de fluorescência de raios-X), com técnicas de microanálise (microscopia ótica; microscopia eletrónica de varrimento, micro-FTIR, micro-Raman) e técnicas analíticas laboratoriais (DRX, LC-MS, py-GC-MS).”
Através desta descoberta, que decorrerá ao longo de três anos, poder-se-á verificar quais as implicações que a falta de estudo das obras de Negreiros teve nos fenómenos de deterioração, com vista a salvaguardar o seu futuro.
Financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, o projecto pluridisciplinar PTDC/ART-HIS/1370/2020, resulta da parceria entre o Laboratório HERCULES da UÉ, o Laboratório José de Figueiredo da Direção Geral do Património Cultural, o Instituto de História de Arte da faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e Administração do Porto de Lisboa.
Texto de Raquel Botelho Rodrigues