Projecto da Universidade de Évora para redescobrir Almada Negreiros

29 Dezembro, 2020

Reconhecendo que há vários aspectos da arte mural de Almada Negreiros ainda desconhecidos, uma equipa de investigadores da Universidade de Évora decidiu lançar-se num projecto, liderado por Milene Gil, perseguindo, pela primeira vez, a questão da inovação que o modernista trouxe a este campo e quais as fontes e tendências do seu trabalho.
As suas criações murais foram destinadas a encomendas públicas e integradas em projectos do arquitecto Porfírio Pardal Monteiro, entre as quais encontramos cinco núcleos de pintura na cidade de Lisboa entre 1938 e 1956.
“Estas obras têm sido objecto de discussão preferencial, no que respeita aos seus atributos plásticos, iconográficos e simbólicos, mas são poucos ainda os estudos que abordam, e muito menos os que aprofundam as particularidades das produções, as referências e repercussões dos murais pintados entre artistas conterrâneos e gerações sucessivas” reflecte a investigadora, na notícia «UÉ lidera projeto que pretende desvendar a arte da Pintura Mural de Almada Negreiros», publicada no site da instituição. Nota ainda que a catalogação da materialidade da obra, que tem implicações na conservação, pode apresentar falhas. “Todas as suas pinturas murais estão catalogadas como frescos mas esta poderá não ter sido a única técnica pictórica realizada”, refere, baseando-se nos relatos de Conservadores-Restauradores do Instituto José de Figueiredo que procederam ao estudo destas pinturas entre 1970 e o ano de 2000. Há que considerar que o modernista era um experimentalista. Este estudo avançará através de três abordagens distintas. Começar-se-á “no campo da investigação de história de arte e história das técnicas da produção artística, com recolha e avaliação de documentação e sua integração com os resultados obtidos dos exames de superfície e caracterização material. Em segundo lugar, os investigadores vão realizar exames de superfície das pinturas com recurso a técnicas convencionais e avançadas de imagem no visível, visível-rasante e no invisível (ultravioleta e infravermelho).” Por último, proceder-se-á à “caracterização material, conjugando técnicas de análise in loco não invasivas (colorimetria, espectrofotometria no visível, FORS, espectrometria de fluorescência de raios-X), com técnicas de microanálise (microscopia ótica; microscopia eletrónica de varrimento, micro-FTIR, micro-Raman) e técnicas analíticas laboratoriais (DRX, LC-MS, py-GC-MS).”
Através desta descoberta, que decorrerá ao longo de três anos, poder-se-á verificar quais as implicações que a falta de estudo das obras de Negreiros teve nos fenómenos de deterioração, com vista a salvaguardar o seu futuro.
Financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, o projecto pluridisciplinar PTDC/ART-HIS/1370/2020, resulta da parceria entre o Laboratório HERCULES da UÉ, o Laboratório José de Figueiredo da Direção Geral do Património Cultural, o Instituto de História de Arte da faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e Administração do Porto de Lisboa.

Texto de Raquel Botelho Rodrigues