E se a arte pudesse servir para promover a ciência cidadã?
Foi isto que pensaram três investigadores da Universidade Coimbra (UC) que lançaram duas bandas desenhadas que, além da componente didática, pretendem alertar e sensibilizar a comunidade escolar para a importância de proteger os cursos de água.
Cristina Canhoto, Ana Lúcia Gonçalves e Aingeru Martínez desenvolveram esta ideia no âmbito do projeto europeu “LivingRiver – Caring and protecting the life and culture around rivers and streams”. Esta é uma iniciativa de ciência cidadã, que envolve investigadores e organizações não-governamentais de Portugal, Espanha, Roménia e Turquia, que aqui se dedicam ao conhecimento e proteção dos cursos de água.
Neste consórcio, coordenado pela Associação Portuguesa de Educação Ambiental (ASPEA), a equipa do Centre for Functional Ecology – Science for People & the Planet, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, é responsável pela elaboração de materiais de apoio que possam ser usados pelos diferentes agentes de formação, nacionais e internacionais.
Neste âmbito, e para facilitar a explicação de processos a executar no campo e em laboratório, os investigadores da UC convidaram o ilustrador André Caetano para criar duas bandas desenhadas intituladas “Grasping the Stream With a Litter Bag” e “Which Should I Eat?”. Estas exemplificam o processo de avaliação da integridade funcional dos ribeiros e dos efeitos de atividades antropogénicas em organismos aquáticos.
Cristina Canhoto, que lidera a participação da UC neste projeto, explica que a “tradução” deste processo para uma banda desenhada permite facilitar a compreensão de procedimentos científicos rigorosos. “É muito mais fácil a pessoa pegar numa banda desenhada, que se olha e lê com facilidade. Um protocolo [científico] tenho a certeza que um adolescente terá dificuldade ou pelo menos vai resistir a ler, por mais interessado que esteja”.
A investigadora explica ainda que o elemento visual permite demonstrar as técnicas de forma muito mais percetível, permitindo manter o rigor científico. “O mostrar que pinça se deve utilizar, como se deve pegar, aqueles detalhes que as vezes não estão escritos, porque são [habitualmente] desempenhados por pessoas que trabalham na área…é mais fácil quando a pessoa olha para a banda desenhada”, acrescenta.
As BDs foram elaboradas em inglês, de forma a manter o rigor científico na descrição dos procedimentos. “Eu tenho uma preocupação: é que a ciência cidadã deve ser o mais cientificamente correta possível para podermos confiar nos resultados. E portanto há que ter uma linguagem correta, precisão nas técnicas, etc”, diz Cristina Canhoto que espera que, com este tipo de conteúdo “o contacto com os rios se propague a mais pessoas quanto possível.”
“Se as pessoas não entenderem o rio não o vão proteger de forma conveniente. E portanto eu acho que isso é importante. Todo o caminho que se faz neste protocolo, é um caminho de conhecimento, acho eu”, reforça a investigadora.